Cannes não é um festival, não é uma cidade. Cannes é um grande set de filmagem onde todos os anos a fantasia se apossa das pessoas e o sonho vira realidade.
Câmeras por todo lado. Tribos de todos os tipos chegam pra participar do seu filme. Têm os deuses do Olimpo, que descem à terra, disfarçados de criativos, e não conseguem conter a empáfia ao perceber que se achegam a eles simples humanos em busca do nectar de sua sabedoria.
Roupas bonitas, escondem-se no glamour de júris, festas e entrevistas. Tem os jovens geniais, futuros deuses, que oscilam entre a falsa humildade, um gênero bacana, que fazem para chegar perto dos deuses.
Falam inglês fluente e acham muita graça de tudo – confesso que meu inglês é horrível, fruto dos anos 70, quando, na Faculdade de Letras da UFRJ, fazia parte do DCE, da UNE e adorava o PCB e achava que essa língua era maldita.
Fugi das aulas do imperialismo yanque e olha eu aqui, que merda, sem entender porque os caras riem tanto.
Tem os humanos, os gente boa. São publicitários, promocitários, clientes, jornalistas e outros menos cotados que, cientes da nossa pequenez – é. Eu me incluí nos gente boa por enquanto, porque me amarro nessa galera e fiquei fã deles -, transitam pelos bares da vida, bebendo cerveja mesmo, e andam por aí, nos points e espaços de ativação no Palais, chegando mais e vivendo o novo, sem ostentação e roupa de grife, querendo mesmo é saber se a mesmice da Comunicação acabou e surgiu algo vivo – chega de ghosts – que marque época, valorize marcas, venda produtos e serviços de um jeito “tapa na cara” sabe
Aquilo que você olha, ouve, vê e fica feliz e muito “p” da vida ao mesmo tempo. Feliz, porque encontrou algo “dos culhões de Júpiter” (como diria meu amigo, e grande diretor de Arte, Paulo Brandão) e “p” porque não foi você quem fez.
Aí tem os malucos. Um grupo formado por um mix que sai de todos os outros e de quem ficou fora da minha lista. São legais. Os malucos são sempre beleza.
A galera do live marketing também faz seu filme – eu tô aqui, viu? – Estreia de primeira, com direito a destaque no letreiro, com a NewStyle, mas a certeza de que, ainda dessa vez, mesmo estando em número nunca visto antes na história desse país, os protagonistas serão uma outra tribo que usa o Cinema Live, mas sabe mesmo é usar dublês de corpo – nem todos, claro, porque tem alguns que fazem no peito e na raça as cenas ao vivo – e saem bem na fita. O que faz parte do filme.
A noite vai chegando e as luzes se acendem. E é aí que fica evidente que estamos num set de filmagem. Luzes acesas, as câmeras, frenéticas, buscam o close, o brilho. Então, os deuses põe toga, os geniais, suas roupas de grife, os gente boa se reúnem para um papo regado a vinho nos bastidores, os malucos tiram roupa – suas e de outras pessoas – e a gente… bem, a gente faz ao vivo.
Dirige o filme, porque Cannes é um evento, cheio de ativação, flash mob, ações promocionais, encontros, palestras e seminários, e, em essência, nós estamos cansados de ver esse filme.
Primeiro, as luzes, depois, as câmeras e aí a ação. E o Leão ruge pra gente. Por enquanto, ele aparece só no início do filme pra maioria, mas, eu não dou dois anos, para ele vir para as nossas prateleiras aos montes. E aí a gente vai ficar bem na fita de Cannes de vez.
Fonte: Promoview